A formação
de professores não se finaliza…
Pieter Smit
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PORTUGAL E NO BRASIL
EVIDÊNCIA 2
Resumo
A
formação de professores começa aquando da aquisição do grau de licenciatura (saberes
científicos) e continua com a formação inicial que, no momento, faz parte
integrante da licenciatura num processo de formação integrada. Não obstante, o
desenvolvimento profissional dos professores não se finaliza com a formação
inicial é necessária uma actualização constante de formação contínua.
A
formação de professores é uma área de conhecimento diversa, ampla, muito fértil
na reflexão e melhoria da qualidade no processo de formação. Actualmente é alvo
de uma discussão e problematização, devido à sua crescente investigação
educacional.
A
relação dos indivíduos tem-se alterado face ao fenómeno do espaço e do tempo da
sociedade, junto com os fenómenos da globalização, multiplicando-se em fontes
do saber e saber fazer.
Nos
dias de hoje, os saberes e as competências adquiridas na formação inicial são
insuficientes para superar as necessidades permanentes da sociedade, em grande
mudança. As mudanças de facto exigem o prolongamento da educação e da formação
ao longo da vida. Os cidadãos necessitam de uma constante aprendizagem e
actualização na sua profissão. A formação vai para além da aquisição do saber
fazer, implica troca de experiências, não supõe uma acumulação de informação
mas de saberes e experiências de vários saberes que ultrapassam a formação
académica.
Nóvoa
(1991) afirma que a formação não se constrói por acumulação de cursos de
conhecimentos ou técnicas, mas sim através de um trabalho de reflexão critica,
sobre as práticas e reconstrução permanente de uma identidade pessoal, importa
dar um estatuto ao saber da experiência e investir na pessoa.
Vamos
tentar, com alguma reflexão, ver alguns pontos e considerações fundamentais
para entendermos o processo e evolução da formação de professores no Brasil e
em Portugal. Modelo e estratégias de formação segundo Zeichener, Nóvoa,
Perrenoud, a partir de uma visão panorâmica.
Formação de professores em Portugal
A
formação de professores pressupõe um desenvolvimento permanente ao longo da
vida de professor, o qual vai adquirindo competências de vários níveis e
dimensões. Significa que há um progressivo crescimento pessoal e profissional
que se modifica na procura, na inovação e no aperfeiçoamento, enquadra-se na
formação inicial e na formação em serviço/contínua.
A Formação Inicial
A
formação inicial de professores começa por salientar que as suas principais
funções básicas são: formação e prática pedagógica nas escolas ligadas à
prática docente; controlo da certificação para o exercício da profissão;
promoção de atitudes de reflexão sobre o sistema educativo, sendo este um autor
de mudança na sociedade que o acolhe como cidadão Garcia (1999). A formação
inicial é a primeira, de um período de várias etapas, esta requer que o
profissional da educação adquira conhecimentos e competências científicas,
técnicas pedagógicas de socialização e saberes básicos, permitindo ao futuro
professor iniciar a sua profissão com sucesso.
Felizmente
tem vindo a crescer a importância dada à formação inicial de professores. Se
estes não possuírem uma formação adequada, sólida que vá ao encontro do que é
solicitado pelas reformas curriculares reorganizadas, é certo que se estas
falharem não serão implementadas. Nas sociedades contemporâneas e no contexto
do papel na escola os professores são fundamentais, estes são o motor da mudança
e da inovação. É imprescindível que estes sejam capazes de desenvolver
estratégias que visam a melhoria da qualidade da educação e de todos os alunos
de forma a promover uma formação/educação que responda às novas exigências da
sociedade contemporânea. Partilhamos o entendimento de Garcia (1999), quando
diz que a formação de professores “deve promover o contexto para o
desenvolvimento intelectual, social e emocional dos professores”.
A
formação inicial de professores apresenta-se como uma formação única de
preparação muito especifica Formosinho (2009), estas características são tão
peculiares à profissão de professor que tornam a formação inicial mais específica
e diferente de qualquer outra. Formosinho aponta a existência específica da
profissão docente que advêm das políticas educativas e de outras que resultam
da especificidade de cada país. Em Portugal nos anos 70/80 não se falava da formação
inicial de professores como nos dias de hoje, tornou-se mais premente e
difundida à medida que se desvendavam os caminhos da educação e formação
inicial. A formação de professores não é recente, esta existe desde que há
professores para formar. Mas a formação tem vindo a ser mais discutida desde as
décadas de 70 e 80. Só a partir da década de 80 é que a investigação sobre a
formação em Portugal terá sido marcada por um aumento de interesse pelos
processos de desenvolvimento e formação profissional (Alarcão &
Sá-Chaves,1994:Alarcão,1996;Nóvoa,1992), foi através de alguns projectos de
investigação e intervenção que sugiram no âmbito do ensino.
A
reflexão sobre a formação inicial de professores e os seus argumentos não se esgotam
ao falarmos simplesmente da formação. Esta reflexão impõe falar da forma como
olhamos o ensino e a educação e como vemos o professor. São vários os autores Zeichener,(1993);Perrenoud;
Roldão,(1999),Marcelo Garcia, (1999), Estrela (2002), que consideram que o
conceito de formação de professores apela para significados e teorizações de
práticas diversas. Perrenoud (1993) refere que a formação é uma “intervenção
visando as modificações no domínio dos saberes, dos saberes fazer”.
A
formação inicial é caracterizada por um processo contínuo, alargando o
desenvolvimento profissional em que o percurso pode ser analisado de maneira
mais simples. Marcelo Garcia entende a área da formação de professores como uma
área de conhecimentos e de investigação de propostas teóricas e práticas. Estrela
(2002) diz ser a formação de professores, uma das principais dificuldades,
entende o conceito como o início de um processo de preparação e
desenvolvimento.
Formação
continua
Como
se referiu a formação de um professor não se esgota na formação inicial. Sendo
esta uma etapa fundamental, não é suficiente, uma vez que encara o
desenvolvimento profissional, como um processo contínuo de actualização e aperfeiçoamento.
Podemos encarar a formação de professores numa perspectiva permanente que se
realiza ao longo da carreira profissional. Aprender a ensinar e a educar é algo
que se processa ao longo da vida, daí que a formação inicial deva construir uma
fase, para continuar este processo. A formação contínua é a sequência da
formação inicial, adquirindo um estatuto diferenciado em relação aquela.
Formosinho (1991), também, defende que a formação contínua é a sequência da
formação inicial e distinta desta formação, distingue-se essencialmente da
formação inicial não pelos conteúdos, metodologias ou formação mas pelos seus
destinatários. É oferecida a pessoas com experiência de ensino que influencia
os conteúdos e os métodos desta formação por oposto à da formação inicial.
Fernandes
e Rodrigues (2005) afirmam que a formação contínua de professores tem sido
apontada entre outros aspectos, como meio de gerar novas reflexões e produzir
novos sentidos para a profissionalização docente.
É
pela década de 90 que se começa a estruturar um sistema de formação contínua de
professores em Portugal. A partir de decreto-lei nº 344/89, de 11 de Outubro
que estabelece o ordenamento jurídico da formação de professores e educadores
de infância. Este mesmo decreto-lei (artigo 25º) salienta que a formação contínua
é um direito e um dever e define três objectivos fundamentais: (i) melhorar a
competência profissional dos docentes nos vários domínios da sua actividade; (ii)
incentivar os docentes a participar activamente na inovação educacional e na
melhoria da qualidade da educação e ensino; e (iii) adquirir novas competências
relativas à especialização exigida, pela modernização e diferenciação do
sistema educativo (artº26).
Formação
continuada
Deverá
proporcionar que o docente tenha oportunidade de aprofundar os seus conhecimentos
e oferecer oportunidade de se actualizar, aperfeiçoar técnicas e produzir novos
saberes. Segundo Rodrigues, Esteves (1993) formação continuada de reflexão[i] é
aquela que é feita ao longo da carreira, sem imposições do M.E.
Entendemos o que é a formação de
professores no Brasil
Vive
se uma época de muitas transformações, momentos de muitas incertezas. Assiste
se a uma valorização da produtividade, da competitividade nas várias fases da
vida humana, inclusive na educação. Neste contexto está incluída a figura do
educador e os saberes que servem para a sua prática educativa.
A
formação de professores/educadores vem a assumir uma posição de destaque nas
discussões relativas às políticas públicas uma preocupação que se evidencia nas
reformas que vêm sendo implementadas nas políticas, de formação docente bem
como nas investigações e publicações da área e nos debates acerca da formação
inicial e continuada dos professores/educadores.
Nestas
dimensões, a formação continuada aparece associada aos processos de melhoria
das práticas pedagógicas desenvolvidas pelos professores/educadores em sua
rotina de trabalho e em seu cotidiano escolar.
Sob
o ponto de vista de políticas públicas, a formação continuada de professores
tem sua politica na Lei de Bases 9394/96 (Lei de Directrizes e Bases da
Educação Nacional Brasileira), vem regulamentar o que já determinava a Constituição
Federal de 1988, instituindo inclusão nos estatutos e planos de carreira do
magistério público, o aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive em
serviço e mecanismos compatíveis para acompanhar as necessidades e os
resultados obtidos em cada formação
Notamos
que as universidades não têm sido capazes de promover a formação inicial com as
características que lhe são peculiares.
Sistema
educacional paralisado, Leis e directrizes profissionais, não preparados porque
não passaram por processos que tinham como objectivo o desenvolvimento da
autonomia critica e reflexiva. Planeamento e currículos sem coerência com a realidade
escolar, estratégias equívocas no processo ensino/aprendizagem.
Surgiram
algumas manifestações a partir da preposição da actual Lei de Bases 9394/96.
A
formação de professores tem como objectivos:
-
Formação sólida;
- Aproximar as instituições de
formação das escolas
-Fortalecimento da pesquisa;
- Normalizar a entrada na
profissão;
- Autonomia das escolas;
Cada
nova politica, projecto, ou programa, parte do zero desconsiderando as
experiencias e os conhecimentos já acumulados.
Quando
se fala na formação de professores no Brasil, o facto é que só em meados do séc.
XX é que começa o processo de se expandir a escolarização básica no país. A
expansão da rede pública teve o seu crescimento real, só se completa em finais
dos anos 70/80 visto o número de alunos que estavam matriculados no ensino
fundamental ser um nº elevado e não haver professores para esses alunos.
A
escolarização no Brasil foi durante alguns séculos só de uma elite em escolas
católicas. Havia poucas escolas públicas, atendendo ao número elevado de
crianças nessa época. Os críticos educadores nos anos 60/70 questionavam muito
a enorme massa populacional analfabeta. O ensino médio e superior era uma
quantidade mínima na população brasileira.
Com
a expansão da população é questionada a falta de investimentos no ensino
fundamental. Começa a ser suprimida a falta de docentes com várias adaptações:
as escolas do nível médio começam a expandir-se, com cursos rápidos com pouca
qualidade formativa; complementos de formação de várias origens; autorizações, especiais
para o exercício do magistério a não licenciados, que eram admitidos professores
leigos.
A
formação de professores sofre o impacto do crescimento tão rápido das redes
públicas e privadas do ensino fundamental, grandes improvisações tiveram que se
fazer para que as escolas funcionassem. Em outros países a escolarização não
demorou mais de 40 anos a ser organizada. O Brasil teve um crescimento do
sistema escolar, de grande mérito e esforço. É chegado o momento, de se
conseguir que o sistema tenha maior qualidade em seus processos de gestão, nas
actuações dos profissionais e nas aprendizagens pelos quais responde. Um dos
aspectos a considerar é a formação dos professores.
Formação inicial
A
formação inicial no Brasil tem alguns aspectos comuns com a formação inicial em
Portugal, na legislação, tem as mesmas semelhanças nos pressupostos das reformas
indicam que a mesma faz parte de uma política social global, com influencias
nas políticas sociais e nas politicas educativas.
A
formação inicial é um momento de grande relevância para o desenvolvimento das
competências profissionais, mas não o único. É o inicio de um processo
de preparação e desenvolvimento
que deve ser continuado ao longo da vida profissional
Quanto
às diferenças enquanto no Brasil ainda se discute a formação inicial em Portugal essa fase já foi ultrapassada.
Formação continuada
Qual o papel da formação continuada do
professor, em relação às práticas docentes da construção de identidade
profissional. Qual o papel da formação continuada para a construção daquela
identidade e das suas evoluções no conceito dessa formação?
Vamos apresentar como é
feita a evolução do conceito de formação
continuada desde o final do anos 70 até à actualidade. Desde a década de 90
vários pesquisadores dedicaram-se ao estudo sobre temáticas de formação
continuada, visto que é um processo de alternativa e uma melhoria da qualidade
da escola pública.
Muitos
estudiosos têm realizado pesquisas nessa área, publicando vários artigos em
periódicos de circulação nacional. Entre estes estudiosos destacam-se em (1995 )André
Brzezinsk em (1999), Moreira e Cunha em(1999), Alves em (1995), Pimenta em (2000)
entre outros autores portugueses como Nóvoa em (1992), Alarcão em (1998,2001). Zeichner tem- se dedicado ao tema, tendo
produzido importantes análises, sobre a formação docente e histórias de vida.
Nas
últimas décadas a formação continuada vem assumindo várias dominações, tais
como treinamento em serviço, reciclagem de professores, treinamento
participativo, capitação docente profissional e educação permanente, formação
em serviço, qualificação docente, formação continua e aperfeiçoamento de
professores que predominam os termos de formação continuada ou continua .
No Brasil, o termo formação continuada é
muito utilizado por educadores e especialmente pelos gestores, responsáveis
pelas políticas públicas de formação docente. Entre os estudiosos da questão, a
maioria destaca a necessidade de tratar a formação continuada. Esta é vista
como um processo que se desenvolve no local de trabalho do professor sem ter
necessidade de se afastar de suas funções.
Pode-se
afirmar que é preciso pensar a formação docente inicial e continuada, Cury
(2004) destaca que a formação inicial não se deve desqualificar, destacando-se da
formação continuada indispensável para todos. Segundo o mesmo autor, a formação
inicial é o momento essencial em que se dá a profissionalização. O M.E publicou
em 1998 as referências do manual para a formação de professores que traz a
visão do governo federal sobre as políticas de formação dos professores e
propõe a formação docente inicial continuada.
A
formação continuada é entendida por este autor, como uma decorrência da
sociedade do conhecimento, uma vez que os professores são profissionais que
trabalham especificamente com o processo de formação humana, com o
conhecimento, segundo Estrela (2006) os estudos sistematizados de vários
autores sobre a formação continuada os princípios poderiam ser defendidos e
categorizados.
“A formação como processo de
desenvolvimento pessoal e profissional de um ser adulto em interacção com o
meio, portanto com o processo contínuo de reconstrução da identidade.”
Para
Mello (2004) a formação continuada tem sido imprescindível, não importa qual a
necessidade, se é por ter uma má formação inicial, se é por procurar uma
excelência na docência, se para buscar a excelência na educação. Nóvoa afirma
que a formação deve estimular uma perspectiva crítica reflexiva que forneça aos
professores os meios de um pensamento autónomo que facilite as dinâmicas de
auto formação participada.
Concluimos
Que a formação de professores por si só não pode promover a motivação
profissional como a entendemos a formação surge a partir das vivências dos
sujeitos ao longo das diversas oportunidades de construção da sua profissão.
Neste processo estão envolvidos o reconhecimento público da profissão, as
condições de trabalho a formação a organização para ser relevado à categoria profissional.
Destacamos que a formação também
tem o seu papel , este não pode passar para segundo plano
Conclui-se que os objectivos em
Portugal e no Brasil são comuns, as politicas educativas também são idênticas,
os dois países com a mesma língua materna mas com culturas diferentes.
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